Ervas, 10–50 cm alt., glabriúsculas, tricomas simples, finos, de base espessa e esparsos tricomas glandulares microscópicos. Caule ereto a decumbente, glabriúsculo; entrenós 0,5–6,5 cm compr. Estípulas 0,5–2,5(–3,5) cm × 2–9(–12) mm, lanceoladas, ápice apiculado, margem inteira, apressas, persistentes.
Folhas com pecíolo 3–23,5 cm compr., glabriúsculo, com colar de escamas no ápice; lâmina 8–26 × 4–18 cm, inteira, assimétrica, basifixa, membranácea a papirácea, arredondada a transversalmente elíptica, ápice acuminado, base cordada, margem denticulada a crenada, ciliada, esparsamente pilosa a glabrescente em ambas as faces; face adaxial verde, face abaxial verdeclara com nuances vináceas; venação actinódroma, 6–10 nervuras na base. Cimeiras 10–28,5(–50) cm compr., 4–80 flores, 2–5 nós; brácteas de primeira ordem 4–8 × 2–4 mm, ovadas, caducas.
Flores estaminadas sem bractéolas; tépalas (2)4, alvas, as externas maiores, orbiculares a ovadas, face abaxial com esparsos tricomas glandulares microscópicos a glabras, as internas obovadas a oblongas, face abaxial glabra; estames 9–58, anteras rimosas, conectivos proeminentes. Flores pistiladas com 2 bractéolas ovadas a elípticas, caducas; tépalas 5, alvas a róseas, três maiores, ovadas a oblanceoladas, face abaxial com esparsos tricomas glandulares a glabras; ovário com placenta inteira.
Cápsulas 1–1,6 × 0,7–2,5 cm, com esparsos tricomas glandulares microscópicos; alas 3, iguais a desiguais, a maior 0,2–1,2 cm larg., ápice arredondado a agudo, as menores 1,5–6 mm larg., redondas a agudas. Sementes oblongas.
Ocorre no estado da Bahia (Jacques 2015) e em Minas Gerais. G8, H7, H8: Floresta ombrófila densa montana e submontana. Habita solos humosos. Floresce e frutifica de janeiro a maio, e em agosto e setembro.
Begonia neglecta possui um colar de escamas vináceo no ápice do pecíolo, uma característica única dentre as espécies de Begoniaceae da Bahia. O tamanho do colar varia de 1,5 a 28 mm comprimento. Candolle (1861) descreveu a variedade caulescens para Ilhéus, com base no maior tamanho da planta, no caule de 7,5 cm de comprimento (vs. 5 cm compr.), no pedúnculo fértil com 12,5–15 cm de comprimento (vs. 7,5 cm compr.) e no tamanho das cápsulas, mas, neste caso, sem mencionar as medidas da variedade-tipo. Considerando-se a elevada variação morfológica de
Begoniaceae devido ao hábitat, especialmente com relação ao tamanho das estruturas, conclui-se que as características utilizadas por Candolle são insuficientes para a manutenção de uma variedade. Diante disso, essa variedade não está sendo reconhecida neste estudo.
Na mesma obra em que descreveu Begonia neglecta, Candolle (1859) descreveu B. membranacea, também endêmica de Ilhéus, nas imediações de Castelo Novo. Candolle (1861) apontou a semelhança de suas folhas com as de B. neglecta, mas diferenciou as espécies pela cápsula maior em B. membranacea, assim como no caso de B. neglecta var. caulescens. No entanto, a medida da largura da ala da cápsula é equivalente para ambas (14–16 × 12–14 mm em B.
membranacea vs 8–10 × 12–14 mm em B. neglecta var. caulescens). A lâmina foliar de B. membranacea é descrita por Candolle como reniforme a arredondada, com 7–9 nervuras, já a de B. neglecta como obliquamente ovada, com 6–7 nervuras. Contudo, a ilustração de Candolle (1861, p.97) na Flora Brasiliensis exibe claramente B. neglecta var. neglecta com folhas reniformes.
Candolle (1861) cita que em B. neglecta possui duas sépalas e duas pétalas, que correspondem às tépalas, e em B. membranacea duas tépalas estão ausentes. Contudo, também foi observado, tanto em material herborizado quanto no campo, que é comum essa variação no número de tépalas de B. neglecta. Comparando o holótipo das duas espécies não existem diferenças significativas entre B. neglecta e B. membranacea. Pode-se, assim, concluir que se trata da mesma espécie, com uma ala dos frutos maior que as demais, a folha de forma reniforme com ápice acuminado, o pecíolo com colar de escamas no ápice e nervuras em número igual.
Mais recentemente, Begonia cacauicola foi descrita para o sul da Bahia com base nas seguintes características: “planta delicada, membranácea, glabra, com 40 cm de altura” (Smith & Wasshasuen 1999, p.16). Ao examinar os isótipos (CEPEC, UB), verificou-se, além dos tricomas glandulares microscópicos originalmente descritos, a presença de esparsos tricomas simples de base espessa e suas cicatrizes nas lâminas foliares, bem como de um inconspícuo colar de escamas no ápice do pecíolo. A análise do aspecto geral da planta permitiu concluir que a espécie em questão é sinônimo de B. neglecta.
Fonte: GREGÓRIO, B. de S.; COSTA, J. A. S & RAPINI, A. Flora da Bahia: Begoniaceae. Rev. Sitientibus série Ciências Biológicas, n. 16, p. 01-52, il., 2016.